"Life Contains but two tragedies.. One is not get your heart´s desire; the other is to get it.."

Sócrates

domingo, 25 de novembro de 2012

A carta que deveria ter sido lida há 4 anos atrás...

"O teu mundo não acaba hoje, tanto quanto sei vais sobreviver a este momento pelo menos mais 4 anos.
Aquela hora em que aguardas na sala de espera vai ser a mais intensa de todas. Vais entrar, sorrir e ser super acarinhada por ela. Depois de 20 minutos a ler papeis ela vai-te dizer, durante mais 20 minutos, entre o essencial: "Tens de aprender a viver com isto". 
E tu vais aprender.
Vais passar pelo menos seis meses a adormecer com o coração esmagado pela notícia. Mas vais viver. Vais ser desiludida pela pessoa que mais te apoiava. Vai-te dizer "Não consigo ver-te a sofrer dessa maneira, sem saber se amanhã acordarás." 
Vais sair daquele consultório, vais atravessar uma praceta enorme com os teus pais atordoados com a notícia. Vais ser tu a dar força a quem te ama e fazer disso uma coisa insignificante.
Mudarás praticamente todos os hábitos e rotinas. Serás operada 3 vezes, duas delas a sangue frio. Não há tempo para anestesias. Tal como não haverá tempo para "cortesias de médico". As notícias serão sempre dadas da mesma maneira:"Neste momento estás assim, ou assado. Tens de aprender a viver com isso."
E tu vais aprender.
O grande sonho é adiado. Não, nunca será extinto. Apesar de toda a gente te dizer "É impossível  mas há sempre a esperança, a medicina tem evoluído tanto..."
Os seis meses passarão, nove, doze. Farás tratamentos, um dos quais insuportavelmente doloroso. Ao ponto de desmaiares durante a noite no wc enquanto vomitavas... Sim, os vómitos serão semanais, depois mensais... As dores diárias, mas passas a nem ligar. As cólicas, as alterações gastro-intestinais semanais, senão diárias.
Mas tu vais aprender a viver com isto.
Só quase dois anos depois, é que voltarás a ser menstruada. Irás gritar tanto no wc nesse dia, como se isso fosse o euro milhões. Vais chorar de felicidade. Vais fazer as tuas melhores amigas chorar ao telefone quando lhe deres a notícia. Ainda há esperança, e a medicina não evoluiu.
Todos os meses enquanto o resto do mundo feminino despreza esse momento do mês tu irás vivê-lo da forma mais intensa que há.
Todos as semana vai custar. Há sempre alguma coisa que não funciona normalmente. Vais ouvir muitas vezes "Pareces uma velhinha". E com um sorriso nos lábios dirás: "Mas sou uma velhinha gira!". O teu coração vai bater mais forte quando te dizem isso. Quando falam na maternidade, quando falam em envelhecer, ou até mesmo envelhecer saudavelmente, quando falam em família. O teu coração vai bater. Vais sentir muita raiva por tudo o que aconteceu. Vais passar a compreender. A aceitar. Vais passar a nem te lembrar desse dia.
Vais passar horas a ler noticias na internet, revistas de especialidade. Vais procurar 3 médicos diferentes e todos dirão o mesmo.
"Aprender...Viver... Isto..."
Vais ter sempre muito calor. Quando tiveres frio é porque estás doente. E ficar doente quando não produzes defesa é mau. Vais deixar de poder comer tanta coisa que gostas.
Vais gastar dinheiro em médicos, como qualquer família gasta todos os dias em pão. 
Quatro anos passarão. Encontrarás alguém a quem contarás esta nova condição. E isso vai-te fazer especial para esse alguém. E esse alguém vai ser especial por isso para ti.
Quatro anos depois do dia 25 de Novembro de 2008, às 18h, tu viverás como se nada tivesse acontecido, mesmo sabendo que naquele dia o mundo como o conheceste mudou.
Tu aprendeste a viver com isso."

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